sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Um bom número de estudiosos assinalou já alguns erros importantes nas teorias mercantilistas bem antes que Adam Smith desenvolvesse uma ideologia que o pudesse substituir completamente. Houve críticos como Dudley North, John Locke ou David Hume que atacaram os fundamentos do mercantilismo, e ao longo do século XVIII foi perdendo o favor que tivera. Os mercantilistas eram incapazes de entender noções como a da vantagem competitiva (embora esta idéia apenas chegasse a ser entendida com David Ricardo em 1817) e os benefícios do comércio. Por exemplo, Portugal era um produtor muito mais eficiente de vinho do que Inglaterra, enquanto na Inglaterra era relativamente mais barata a produção têxtil. Pelo tanto, se Portugal se especializava em vinho e a Inglaterra em têxteis, ambos os estados sairiam beneficiados se comerciavam. Nas teorias econômicas modernas, o comércio não se entende como uma soma zero entre competidores, pois que ambas as partes podem ser beneficiadas, pelo qual se trata mais de um jogo de soma positiva. Mediante a imposição das restrições à importação, ambas as nações terminam sendo mais pobres que se não existissem travas ao comércio.


Grande parte de "A Riqueza das Nações" de Adam Smith é um ataque ao mercantilismo.David Hume, pela sua vez, apontou a impossibilidade do grande objetivo mercantilista de conseguir uma balança comercial positiva constante. À medida que os metais preciosos entravam num país, a oferta incrementar-se-ia e o valor desses bens nesse estado começaria a reduzir-se com referência a outros bens de consumo. Pelo contrário, no estado que exportasse os metais preciosos, o valor começaria a crescer. Chegaria um momento no que não compensasse exportar bens do país com altos preços ao outro país, que agora teria níveis de preços menores, e a balança comercial terminaria revertendo por si mesma. Os mercantilistas não entenderam este problema, e argumentaram durante muito tempo que um acréscimo na quantidade de dinheiro simplesmente significava que todo o mundo era mais rico.[39]

Outro dos objetivos principais à hora de criticar as teorias do mercantilismo foi a importância que dada aos metais preciosos, mesmo quando alguns mercantilistas começaram a tirar a importância do ouro e a prata. Adam Smith apontou que os metais preciosos eram exatamente iguais que qualquer outro bem de consumo, e que não havia razão alguma para lhe dar um tratamento especial. O ouro não era mais do que um metal de cor amarela que era valioso simplesmente por não ser abundante.

A primeira escola que recusou completamente o mercantilismo foi a da Fisiocracia, na França. Contudo, as suas teorias também apresentavam uma série de importantes problemas, e a substituição do mercantilismo não se produziu até que Adam Smith publicou a sua famosa obra "Uma investigação sobre a natureza e as causas da riqueza das nações" em 1776. Este livro amostra as bases do que atualmente se conhece como a economia clássica. Smith dedica uma parte considerável do livro a rebater os argumentos dos mercantilistas, se bem que estes são com freqüência versões simplistas ou exageradas dos seus pensamentos.[26]

Os acadêmicos também estão divididos à hora de estabelecer uma causa para o final do mercantilismo. Aqueles que crêem que a teoria era simplesmente um erro deduzem que a sua substituição era inevitável desde o momento em que as idéias de Smith, muito mais exatas, foram expostas ao público. Aqueles que opinam que o mercantilismo era uma procura de formas de enriquecimento para uma parte da sociedade entendem que somente terminou quando se produziram importantes câmbios na sociedade, e nomeadamente no sistema de poderes. No Reino Unido o mercantilismo foi desaparecendo a partir de que o Parlamento açambarcou o poder que o monarca tinha para estabelecer monopólios. Se bem que os ricos capitalistas que controlavam a Casa dos Comuns se beneficiavam desses monopólios, o Parlamento via difícil levá-los a cabo por causa do grande custo que supunha tomar essas decisões coletivas.[40]

Os regulamentos mercantilistas foram eliminados pouco a pouco ao longo do século XVIII no Reino Unido, e durante o século XIX o governo britânico adotou abertamente o livre comércio e as teorias econômicas de Smith do laissez faire. No continente o processo foi algo diferente. Na França as prerrogativas econômicas da monarquia absoluta foram mantidas até a Revolução Francesa, sendo então que terminou o mercantilismo. Na Alemanha o mercantilismo continuou sendo uma importante ideologia até começos do século XX.[41]

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